Tenho-me perguntado, não poucas vezes, a razão pela qual estou vivo, afinal, por que estou aqui neste mundo tão merdoso, certo é que com as suas beneces (o naturalismo do costume, o amor, a família, e o sexo, como não podia deixar de ser), porquê? Li muitos filósofos, muitos livros, vivi muito para tentar encontrar uma resposta, até pela religião passei, mas cada vez me tenho conformado com a ideia de que nunca saberei, e vejo a ciência, a filosofia e a arte com repulsa, por vezes, por considerar que aqueles arrogantes que se inserem nesses três grandes meios que tanto me fascinam se enchem com a presunção de que vão alcançar a absoluta verdade. No entanto, tenho-me apercebido de que quanto mais sou fiel a mim e aos meus sentimentos e ao meu bem-estar, mais ofusco o verdadeiro sentido da vida, logo, mais me despreocupo com ele e mais feliz me torno. Aliás, a felicidade é o que busco, mas para ser feliz há que não querer saber certas verdades universais, como o sentido da vida.
Isto tudo para partilhar convosco um caricato episódio que aconteceu no cinema há muito pouco tempo atrás. Há uma coisa na vida chamada "concursos" que eu, com muita frequência aliás, participo com ávido entusiasmo. Neste último ganhei dois bilhetes para a ante-estreia de uma sequela bodegamente comercial qualquer, que se chamava "Eclipse". Ora, como a minha intenção não era propriamente ficar em casa, pedi ao namorado que me acompanhasse nesta viagem por Hollywood, e lá fomos, levantamos os bilhetes e fomos para a sala.
Não é minha a surpresa quando vejo uma imensidão de crianças, pré-adolescentes e adolescentes (ou seja, os pais dos pré-adolescentes), com uma enchente de pipocas e conversas que competiam com as filhas da puta das vuvuzelas. O meu namorado ficou visivelmente incomodado, mas eu sou casmurro, se é para ir ver Eclipse, vamos ver o Eclipse.
Os trailers começam, os anúncios de televisão-passados-para-cinema, não nos interessou nenhum filme, nem mesmo aquele anúncio modestíssimo do novo do Christopher Nolan, e enfim, começa o filme. Aliás, começa a merda, e continua a merda que se arrastava mal tínhamos entrado naquele sala.
Aquilo não é Cinema, nem cinema, nem inema. Aquilo é a pedófila pornografia para aquelas mentes eclipsadas e excitadas com aquele lobito e aquele vampirito e aquele loiro que pus na fotografia de cima. Aquilo é o triunfo do Labrego, do mau gosto, da total calamidade de uma cultura sem esperança. Sinto que a vida não mais continuará, que todo este mundo está condenado. E não é só por haver "Eclipse"s por aí. É porque o cinema, como nova arte, descobriu-se muito momentaneamente. Agora não é mais que a merda em passagem animada.