La Mala Educación

Várias são as razões que me levam a pensar este La mala educación como o melhor do trabalho de Almodóvar. Tem o Gael García Bernal, que está fenomenal como actor, actor-faz-de-conta e actor, que está no expoente máximo da sua beleza (o espanhol sabe filmá-lo como deve ser), que dá vida à trama; é uma obra que, apesar de se afastar do motivo predilecto do cineasta (as mulheres, claro está), se defronta com o mais íntimo e pessoal do realizador (o mistério absoluto do corpo masculino); explora, a jeito de film-noir, um Anticristo íntimo, um ajuste de contas com uma cristandade absolutamente perdida nos seus pecados (será que o Papa viu este filme?), uma lição de boa educação para aqueles que traumatizaram centenas de crianças; é um romance complexo, trágico no seu âmago mas de deliciosa vista. Toda a mise-en-scène é prodigiosa, desde a construção cénica que nos dá o habitual toque espanhol até a transposição audiovisual das cenas mais subtis (pensemos numa sequência onde os dois personagens, em que a do Gael está a mentir e a fazer-se passar por outro, se encontram no carro e a música "Cuore Matto" está a dar na rádio: digli la verità, la verità, e forse capirà, capirà, perché la verità, tu non l’hai detta mai!). Sim, sem dúvida genial, este filme, apesar de Almodóvar ser um cineasta eternamente aprendiz.