domingo, 25 de julho de 2010

O que se tem visto...

Não tenho vindo à tasca (a minha vida nunca foi isto, só me lembro do blog de vez em quando), mas venho dar o meu parecer sobre dois filmes que estão actualmente nas salas de cinema.
  1. O fantasma de Polanski. É mau, claro está. Nunca se viu objecto de "auteur" tão banal, com um argumento à lá Colgate White (parece que é branco mas não é) que faça desiludir tanto um fã do realizador como eu. Ok, minto, não sou assim tão fã. Mas o homem sabe o que é cinema, não sei por que é se sai com "coisas" destas.
  2. O sonho de Nolan. Também é mau. Não sei por que raio insistem em dar uma conotação de algum ramo da Psicologia a este blockbuster. Se o realizador soubesse um pingo de psicanálise ou da actividade neuronal enquanto se sonha, saberia perfeitamente que a percepção não é assim tão definível e perfeita e lógica como ele quer que seja. Ainda me rio da sua tentativa de se aproximar de Matrix (um filme que gosto) e uma série de outros que perderia eternidades a enumerar. Mas as pessoas são cegas. Se dizem que é obra-prima, acreditemos nelas!
Mas, para bem do meu espírito, também vi coisas boas. Aconselho-vos "Hangmen Also Die!" de Fritz Lang (o único que me faltava) e o documentário "City Life", que reúne os génios Tarr, Kieslowski, e outros numa homenagem caleidoscópia da humanidade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Eraserhead

Há, apenas, duas coisas que não entendo em Eraserhead - a perturbação em lhe chamarem um filme de terror e a sub-consequente hesitação em denominarem-no uma obra grandiosa. Sim, porque isto, isto é puro Lynch, puro festim para o inconsciente, puro horror para os nossos olhos cheios de preconceito e repulsivos de todo e qualquer incómodo para as nossas vidas. Em parte, equiparo muito este filme a um dos livros do maior escritor do século passado (Kafka, saiba-se), A Metamorfose. Aquele bebé era, mesmo naquele mundo fantasioso OU pós-apocalíptico OU sonhado, um incómodo, uma pedra no sapato. E todos lhe eram indiferente porque o ser humano é assim, idiota, medroso pelo desconhecido e o que lhe causa estranheza. Este não é só o seu melhor filme como é um dos grandes a serem vistos por todos. E pensados, claro. Não é qualquer um que vê o Eraser sem se armar em pseudo-intelectual e admirar toda aquela belichíssima fotografia, oh-xi, belichíssima luch! (perdoem-me este desabafo bloguês). De qualquer das formas, não há muito mais a dizer. Vejam.

Ikiru / 生きる

Sim, não me venham com as balelas que Kurosawa é um génio ou é isto ou é aquilo, porquê dizer-se o dispensável, gastar as palavras, rebaixar o seu valor e a sua utilização preciosa? Esta é uma obra-prima, o seu melhor filme provavelmente, um que viaja pelos contornos da vida dada imortal, pelo significado de tudo isto. É um filme sem tempo, sem espaço, que nos compreende de cima a baixo. Incontestavelmente. E pronto, só porque hoje me apetece - Kurosawa FOI um génio. Tomara a ele ter achado o significado da sua vida.

domingo, 4 de julho de 2010

The New World

Não há palavras, só Malick, só O Novo Mundo.

El chacal de Nahueltoro

O Chile nunca foi muito pródigo em termos cinematográficos mas há bons exemplos que merecem ser guardados. Por exemplo: o recente La Nana, que estreou nos ciclos independentes e foi até nomeado, se a memória não me falha, à Rosca de melhor filme estrangeiro, e este, El chacal de Nahueltoro. Sem dúvida que é um grande filme, de raíz neo-realista, é uma docu-ficção perturbadora, que demonstra a moral e a vida indissociáveis, vislumbra um universo onde a cultura e a lei são as ditadoras do espírito humano. Aconselho sem pensar três vezes.

No cinema (iv); Eclips(ados)

Tenho-me perguntado, não poucas vezes, a razão pela qual estou vivo, afinal, por que estou aqui neste mundo tão merdoso, certo é que com as suas beneces (o naturalismo do costume, o amor, a família, e o sexo, como não podia deixar de ser), porquê? Li muitos filósofos, muitos livros, vivi muito para tentar encontrar uma resposta, até pela religião passei, mas cada vez me tenho conformado com a ideia de que nunca saberei, e vejo a ciência, a filosofia e a arte com repulsa, por vezes, por considerar que aqueles arrogantes que se inserem nesses três grandes meios que tanto me fascinam se enchem com a presunção de que vão alcançar a absoluta verdade. No entanto, tenho-me apercebido de que quanto mais sou fiel a mim e aos meus sentimentos e ao meu bem-estar, mais ofusco o verdadeiro sentido da vida, logo, mais me despreocupo com ele e mais feliz me torno. Aliás, a felicidade é o que busco, mas para ser feliz há que não querer saber certas verdades universais, como o sentido da vida.
Isto tudo para partilhar convosco um caricato episódio que aconteceu no cinema há muito pouco tempo atrás. Há uma coisa na vida chamada "concursos" que eu, com muita frequência aliás, participo com ávido entusiasmo. Neste último ganhei dois bilhetes para a ante-estreia de uma sequela bodegamente comercial qualquer, que se chamava "Eclipse". Ora, como a minha intenção não era propriamente ficar em casa, pedi ao namorado que me acompanhasse nesta viagem por Hollywood, e lá fomos, levantamos os bilhetes e fomos para a sala.
Não é minha a surpresa quando vejo uma imensidão de crianças, pré-adolescentes e adolescentes (ou seja, os pais dos pré-adolescentes), com uma enchente de pipocas e conversas que competiam com as filhas da puta das vuvuzelas. O meu namorado ficou visivelmente incomodado, mas eu sou casmurro, se é para ir ver Eclipse, vamos ver o Eclipse.
Os trailers começam, os anúncios de televisão-passados-para-cinema, não nos interessou nenhum filme, nem mesmo aquele anúncio modestíssimo do novo do Christopher Nolan, e enfim, começa o filme. Aliás, começa a merda, e continua a merda que se arrastava mal tínhamos entrado naquele sala. 
Aquilo não é Cinema, nem cinema, nem inema. Aquilo é a pedófila pornografia para aquelas mentes eclipsadas e excitadas com aquele lobito e aquele vampirito e aquele loiro que pus na fotografia de cima. Aquilo é o triunfo do Labrego, do mau gosto, da total calamidade de uma cultura sem esperança. Sinto que a vida não mais continuará, que todo este mundo está condenado. E não é só por haver "Eclipse"s por aí. É porque o cinema, como nova arte, descobriu-se muito momentaneamente. Agora não é mais que a merda em passagem animada.

Grande Illusion

Este é um dos melhores filmes alguma vez escritos e realizados, sob a mão incontestavelmente genial de Charles Spaak e Jean Renoir, respectivamente. Um grito de guerra pelo fim da guerra. E um mui humanista retracto dos desolados, dos oprimidos, esperando encontrar na luz a tolerância, a cooperação e tudo que há de bom no homem.

Pooois...

Pois é, goodfellas, eu não morri, decidi, sim, tirar umas férias, ver uns filmes, deixar as opiniões para mim. Más companhias já me acusam de inconstância. Eu? Só quero que essas bocas engulam areia. It's good to be back.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Filmes de infância (ii) - The Odd Couple

L'avventura

Antonioni está para o amor como picanha está para o feijão. Pois. É desta forma que o realizador italiano, que muito é amado por estas bandas, é visto. Este particular objecto de arte é coisa formidável, obrigatório para quem se preze. Porque o amore é múltiplo, é polifórmico, é um não-é indescritível.

A Clockwork Orange

Kubrick, já se disse... foi o maior de todos nos EUA. Pois bem, eu, para mal dos meus pecados, não falei ainda de uma obra-prima ainda mais pecadora, a santidade frutífera d'A Laranja, como eu e amigos da universidade lhes costumámos considerar quando da sua estreia. Ando às voltas com isto, se é obra-prima não há mais nada a dizer, mas com isto temos tudo para dizer. Se há algo que me desilude neste aqui é o facto de prever uma revolução ultra-violenta-ultra-sexual que idealizou um presente obscuramente perfeito. O presente que temos é uma bela merda, cheio de miúdos que, se querem sexo, ligam os favoritos XXX, ignorantes, bestas que não reconhecem o valor do cinema e deste aqui. Ah, se pelo menos o vissem!! Desabafos à parte: este é um dos meus filmes preferidos. Pronto.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

James Dean vs Marlon Brando


Para protagonizar Rebel Without a Cause, Marlon Brando foi também considerado para o papel que teria então eternizado a figura de James Dean. É interessante contudo pensarmos caso este fosse direccionado para Brando, o deliciosamente atraente Brando contra a tensão escaldante de Dean. O screen test do vídeo que deixei supra ilustra, espero que bem, a contenção que este mostraria caso fosse a personagem principal. Ai, Brando, Brando... se pelo menos desses esse beijo a outra pessoa! Ah, é importante realçar o aspecto de que este teste foi realizado muito antes do filme ser produzido, numa altura em que o actor nem tinha feito nenhum filme.

terça-feira, 18 de maio de 2010

El Ángel Exterminador

Li algures que Buñuel condena a burguesia ao inferno com este seu filme e eu não podia estar mais de acordo. A seu jeito, constrói-se aqui como que uma alegoria catastrófica sobre a degradação dos valores burgueses, com um humor evidente, quase misterioso. O surrealista insiste em mostrar-se vincadamente, pela montagem estranha, com a repetição se sequências noutros moldes que poderia fazer pensar que teria ocorrido erro de edição. E é tudo demasiado subtil, tudo demasiado actual, na minha perspectiva. Buñuel só fazia cinema porque sabia que sabia fazer cinema.

Playtime

No cinema de Tati, o cenário é a coisa mais importante do mundo, seguido das interpretações e da forma como o argumento é pegado. Aliás, toda a história se constrói a partir do visual, pelo que podemos dizer que o francês é obviamente um visionário, um cineasta nata. A maneira como a realidade e o sonho se interceptam numa cinzentíssima concepção da vida moderna é honestamente genial. Não houve nenhum outro como Jacques. Este Playtime não é uma recordação mas sim um futuro, da arquitectura vazia da contemporaneidade, do stress e do trabalho terciarizado, da perda do coração. Mas há em toda esta melancolia um suave toque de comédia, como se fosse urgente aligeirar as mentes humanas desta realidade profundamente horrível.