segunda-feira, 17 de maio de 2010

No cinema (ii)

É sabido que a sala de cinema é tanto o lugar predilecto dos casais mais enamorados e recém-nascidos como dos envelhecidos e ansiosos por reatar uma paixão que já se perdeu há muito. Pessoalmente, odeio estar ao lado de um desses casais, ou, pior ainda, por detrás dos mesmos e sobretudo quando ou o gajo, ou a gaja, são altos e me tapam a visão do filme. Nos primeiros anos que costumava ir ao cinema sozinho, detestava porque me distraiam. Melhor dito: ao se distraírem, enfureciam-me, porque achava, especialmente quando o filme era bom, que era uma autêntica falta de respeito. São flagrantes as situações disso mesmo:
  1. Quando acontece um plano-relâmpago de algo que merecia a total atenção já que era crucial para o posterior entendimento do filme e quando, nesse momento, casal x está a dar um beijo, W pergunta a Y o que acontecera e passam dez minutos a conversar sobre isso, entre carinhos, e perdem mais de metade que há para saber do mesmo.
  2. Quando a atmosfera musical tende para o agudo ou para o crescendo num filme de terror, W esconde a cara entre o ombro de Y e começam a partir daí nos preliminares de algo que não me apetece descrever.
  3. Quando o protagonista conquista o maior feito durante o filme e extrapola a sua felicidade com um beijo na personagem amada, W e Y sorriem após um "ohhh" e beijam-se durante 20 minutos.
Mas claro. Eu não me queixo. Quando comecei a descobrir o que era namorar, quando comecei a ter parceiros fixos e namorados que muito amei, descobri as dificuldades que era ver um filme como deve ser.  Nunca mais censurei o casal de W e Y, apesar de odiar intimamente aqueles que se põem a fazer barulhos com a saliva e os lábios. Assim, e depois de ter perdido o Children of Men sem o perceber da primeira vez, decidi a mim mesmo que sempre que fosse acompanhado com alguém "especial", esse alguém teria que ter a paciência e compreender que não posso tirar os olhos da projecção ou, em contrapartida, eu teria que fazer o sacrifício de   ir (não) ver uma bodega. A última a que fui: Avatar não-3D. Depois de sair da sala de cinema, e de sentir o bolso vazio, não deixei de sentir que me tinha prostituido.

3 comentários:

Manuela disse...

Gostei do blogue. Parabéns!
O Avatar, ainda nem vi, nem tenho a menor vontade!:)

Rui Francisco Pereira disse...

LOL,
excelente texto, sim senhor ;)

Realmente a aposta do Avatar, do ponto de vista económico, podia ser melhor ;)
Mas podias ter tido pior sorte: ver o "filme" ;)

Cumprimentos e parabéns pelo blogue, convido-te a dares uma passada pelo meu ;)

Cinemajb

Frederico Fellini disse...

Agradeço-te Manuela, e não vejas a merda do Avatar.
Jackie Brown, por lá passarei. Obrigado.